29 novembro 2012

Conflito

Ela estava sentada no meio daquela sala escura. Não estava amarrada, mas sentia-se presa da mesma forma. Respiração lenta, mas não calma. Obrigatoriamente lenta. Seu rosto voltado para o chão, suas mãos sobre o colo. Uma luz sobre sua cabeça se acendeu. Seus lábios rosados se moveram ao mesmo tempo em que ela ergueu seu rosto para encarar o horizonte.

- Estou com medo. - Murmurou.

Sua franja escura diante de seus olhos claros. Estaria só? Ninguém poderia responder ao seu lamento?

- Medo do que? - Disparou a voz na escuridão.

Outro faixo vindo do alto iluminou sua silhueta. Cabelos longos e escuros, olhos claro, um olhar irreverente. Estava encostada na parede com um palito na boca. Uma perna dobrada com o pé no encosto às suas costas e os braços cruzados. Ela voltou a falar.

- Você tá com medo de que?
- Eu estou... Eu não sei... Medo do que está por vir...
- Do que está por vir? - Questionou com um riso seco. - E diga-me, ma belle. O que já foi, o que você deixou pra trás, vale esse seu medo?
- NÃO, NÃO! - Outra voz disparada do escuro. O desespero impregnado em seu lamento.

Mais uma luz. Ela era igual as duas outras, mas tinha cortes por todo o seu corpo, lágrimas nos olhos. Jogada no chão frágil e assustada. Abraçava o próprio corpo enquanto parecia balançar e voltou a falar com sua voz trêmula e chorosa.

- O p-passado... Não... Por favor não... De novo não... Não...
- Veja só, que patética. - Resmungou a irreverência andando tranquila até aquela que estava no chão. - Sabemos bem que foi ruim, agora para de choramingar, o pilar vai ficar apavorado por te ver.
- E-eu...

A irreverência e o retrocesso olharam para ela.

- Eu não sei se... Como devo prosseguir... Eu estou com medo de se repetirem... Meus erros, minhas dores... - Ela levantou e andou até as outras duas, abaixando ao lado do retrocesso - Eu quero que cada uma dessas marcas sumam...

Ela deslizou a ponta do indicador por alguns dos cortes restos pelo corpo de sua fragilizada divergência. Doía, rever como ela estava por dentro pouco tempo atrás.

- É só não se importar, sabe. Dar de ombros. - Disse irreverência.
- Não! De novo não. Você sabe que isso não dá certo. Só machuca as pessoas tentando impedir que me acerte. Eu... Não quero ninguém mais triste por minha causa, por que eu te coloquei na frente.
- Estamos aqui pra te proteger, ma belle.
- Mas não quero ninguém mal pra que eu fique bem... - Ela se levantou e puxou o retrocesso junto a si, confortando-a em seu visível desespero.
- Bom... - Murmurou a frágil e ferida - E se... Você... Esquecer de mim?
- O que? Esquecer de você? Mas...
- Tudo bem... Não seria a primeira vez que me esquecem, a dor que você sentiria com essas bobagens... Eu aplaquei pra você...
- Mas... - Seus lábios foram censurados pelos dedos ensanguentados dela, embora não a houvesse sujado.
- Talvez... Pela primeira vez... Eu e irreverência não... Não precisemos ficar aqui... Talvez você esteja pronta pra suportar sozinha...
- Ela? Suportar sozinha? Não me faça rir! - Exclamou a outra com as mãos na cintura. - Se ela aguentasse alguma coisa você não estaria assim. Era pra ela estar assim, ou pior!
- Ela aguenta mais do que você. Você também me jogou na frente, sua... - E seus olhos encheram de lágrimas novamente, e as lágrimas uniram-se aos cortes em seu rosto.

O pilar suspirou nervosamente. Não sabia quem tinha razão, não sabia se devia deixá-las e enfrentar tudo. Não sabia se suportaria o fardo, se deveria tentar... Se era forte o suficiente. Ela não sabia se devia arriscar.

- Eu... - Murmurou. - Prometi.

Era isso. As duas a encararam confusas. Ela soltou o retrocesso e beijou seu rosto.

- Obrigada por ter me protegido, você sofreu muito e eu não esquecerei de você. Por que você é a única que pode me fazer mais forte agora.

Ela então segurou irreverência pelos ombros enquanto um choramingo baixo vinha da outra.

- E obrigada por me proteger... Desse jeito estranho que você protege. Me impedindo de mostrar o quão fraca eu realmente sou. Então eu vou parar de ser fraca, vou parar de me machucar. Obrigada a vocês duas. Por tudo.

E então ela sorriu e se afastou, sendo devorada momentaneamente pela escuridão, para então ser entregue a luz cegante da realidade.

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