05 junho 2013

O Fim da Espera

Ela esperou.

Claro que ela esperou, ela sempre esperou. Não pelo calor, não pela sensação, mas pela comodidade. Como, você deve se perguntar? Ela, em sua esplêndida magnitude e eterna indecisão, pensou ter descoberto que seu desejo era um simples laço. Seu coração lhe disse que o fardo de outrora talvez representasse hoje um alívio, mesmo que ainda próximo, ainda ao seu lado.

Eu não sei ao certo o que ela esperava, sendo realmente sincera. Se os resquícios de sua ingenuidade infantil realmente a levaram a crer que aquilo seria possível. Sua razão lhe disse antes, que não, que era ridículo, e por um tempo ela acreditou no certo. Na verdade. O problema foi quando ela achou que devia discordar daquilo. Foi quando ela pensou que havia uma possibilidade de contato.

"Pelos velhos tempos" murmurou a si mesma enquanto encarava um teto sem graça em meio aos seus devaneios. "Por que não dá pra simplesmente jogar tudo isso fora... Certo?"

"Errado." respondi.

Eu nunca gostei dela, ela me atrapalha e torna coisas simples em problemas tão intensos que sinto vontade de apertar seu pescoço e admirar enquanto a vida abandona seus olhos bondosos. Sua bondade é ridícula. Voltei então a falar, na esperança de enfiar algum juízo em sua tola cabeça.

"Por que você pensa em voltar pra perto de algo que te fez mal? Algo que não faz mais sentido perto de você? Por que você insiste em querer sentir dor?"

"Mas... Eu não acho que vou sentir dor..." replicou ela infantilmente. "Aquilo não me faria mal, esses dias passaram, agora é um novo dia, é um novo momento em nossas vidas, é uma nova oportunidade para..."

"Você perceber como você não era tão importante assim? Você assistir de perto como você passou? Como nenhum deles sente sua falta? Você acha que é coincidência não falarem mais com você? Não estão ocupados, não estão distraídos. Eles fizeram uma escolha."

"Mas... Eu também posso fazer uma escolha..."

"Não é uma escolha existente pra você. Você não tem esse direito, pare de querer tomar pra si coisas de que você abriu mão. Isso é patético e triste. Você é patética e triste."

"N-não! Veja... Eu só quero ter um pouco do que eu tinha antes..."

"Veja você." Disse ríspida segurando-a pelo braço e encarando-a com toda fúria que me consumia graças a sua débil teimosia "O que você tinha antes agora é um passado distante. O que você tinha antes se foi, está morto pra você. Sua implicância com o passado me enoja e irrita, eu estou simplesmente cansada de ter que perder o meu tempo dizendo coisas óbvias pra você, criatura estúpida, mas sabemos que isso é necessário por que dependemos uma da outra. Então entenda. Agora você tem outra vida, outras pessoas, outras preocupações, e sua estupidez crônica só nos atrasa. O que mais vale pra você? Sentar e lamentar um passado morto ou olhar pra frente e cuidar do que você tem? Quem vai cuidar do que existe agora? Nós duas sabemos e sempre soubemos que estamos sozinhas boa parte do tempo, agora esse tempo é menor, o meu tempo com você é menor, mas se você continuar agindo dessa forma, esse tempo voltará a ser extenso... E eu sei que você não quer ficar sozinha comigo tanto quanto eu não quero ficar com você."

"Você sabe o quanto foi importante... Pra nós duas..."

Foi inegavelmente importante, não sou hipócrita. Mas passou. Mesmo assim, depois dessa conversa ela continuou esperando tolamente pra que seu desejo se realizasse. Ela tentou, esperou, achou que daria certo. Até que ela recebeu a punhalada.

Foi divertido observá-la sangrar e tombar inerte, ficando no chão por um tempo ao ver que seus temores se concretizaram. Mas eu pude ver em seus olhos o desdém instalado. Ela não queria que aquilo tivesse acontecido, mas aconteceu. Ela desejava o melhor, desejava coisas boas... A mesma ladainha de sempre, e eu sabia que essa tênue convicção tombaria em breve. Infelizmente a dor dela me afeta um pouco, mas me anima. Ela acordou. Ela finalmente se viu livre do delírio patético que tinha. O resto de sua ingenuidade e confiança escorrendo por entre seus dedos pálidos. Seu corpo deixou de se mover. Ela não está permanentemente morta, muito pelo contrário, ela só está temporariamente apagada.

Nesse momento apenas me sentei e a observei de cima, ali, triste e jogava no chão sobre uma poça de sangue. Ela parou de esperar que a vida fosse a coisa meiga e harmoniosa que ela achou que fosse. Ela parou de esperar que seria para sempre lembrada como alguém incrível e única. Ela desistiu de acreditar que era tão importante pra pessoas que não a procuravam.

Ela finalmente aceitou que o que havia às suas costas jamais a alcançaria de novo. Eu vejo em seu rosto pálido encostado no chão, um sorriso débil manchado de vermelho.

O fim da espera a fez ver que ela estava finalmente livre.

E ela começaria então a olhar apenas pra frente.