Despertou. Sua primeira ação foi se espreguiçar gostosamente
num bocejo silencioso e lento. Piscou seus olhos grandes e verdes antes de
levantar da macia cestinha. As almofadinhas de suas patas tocaram o chão
gelado, e ela miou baixinho antes e colocar as outras três no chão também.
Olhou em volta. Nenhum sinal de seu humano. Acontecia, ele costumava acordar
antes e ir fazer outras coisas. Saiu andando. Aquele apartamento era muito,
muito grande, então era sempre muito divertido fazer seus passeios diários.
Sua cestinha ficava no quarto dele, então ela pulou na cama
(que era bem alta) e farejou. Não estava quentinha, mas tinha o perfume de seu
humano. Miou novamente e sentou ali esperando que alguma coisa acontecesse.
Ergueu a patinha esquerda e passou a língua áspera por ela, depois passando
pelo próprio rosto. Repetiu a ação algumas vezes até sentir que aquela patinha
estava suficientemente limpa, assim como um lado de seu rosto.
Desceu da cama e saiu do quarto com seus belos pelos
castanho-avermelhados se agitando com os passinhos felinos. Atravessou a sala
em silêncio. Olhava em volta procurando por ele de forma atenta. Não gostava de
acordar sem tê-lo por perto. Era incômodo. Preferia quando ambos despertavam ao
mesmo tempo, era muito melhor. Quando se aproximou da cozinha ouviu alguns
ruídos. “Deve ser ele”, pensou a gatinha enquanto entrava naquele cômodo.
Ela parou na porta e ficou olhando. Seu humano estava
estranho, sentado à mesa encarando em silêncio uma tigela. Não sabia o que
tinha ali, mas realmente não se importou. Ele estava parado, embora momento ou
outro movesse a colher que segurava. Ela miou. Nenhuma reação. “Que bizarro, o
que ele tem?”. A gatinha andou até a cadeira em que ele estava e miou novamente
“Ei humano, ei. Olha pra mim, humano. Ei!”.
Não se importou. Ela se aborreceu e se ajeitou no chão
pronta pra pular. E então o fez subindo no colo dele e o assustando. Ele soltou
a colher e encarou o pequeno felino, e parecia aborrecido. Ela apoiou as patas
no peito dele ficando em pé em seu colo e começou a miar. “Por que você não me
dá atenção, humano? Você tá doente? Eu quero atenção”.
– Agora não, mas que saco!
Ele a segurou e colocou no chão. Claro que ela não entendeu
o que ele disse, mas seu tom de voz foi suficientemente agressivo. “Mas que
ranzinza chato você tá hoje.” Ela miou. A gatinha andou até o outro lado e
pulou direto no balcão, andando até ficar na frente dele e colocando a patinha macia
sobre a testa do garoto. “Humano, ordeno que pare de ser estranho.”
– Para de me encher o saco, que coisa, não to a fim de
brincar agora, ok? Me deixa em paz!
E novamente ela foi ao chão. “Mas quem esse humano pensa que
é?!” pensou indignada antes de ir até sua tigela de água. Ela colocou a patinha
na beirada do recipiente (que ficava sob a mesa em que ele estava) e a virou,
causando um ruído de porcelana balançando no chão que chamou a atenção dele.
– Mas o que...? Poxa, pra que você fez isso?
“Eu quero atenção”, miou.
– Caramba, agora vou ter que secar tudo...
“Me dá atenção, humano.”, miou mais.
– Fica quieta um pouco!
“Para de chiar e me dá carinho, minhas costas não vão se
coçar sozinhas, humano.”, miou e se apoiou na perna dele.
– Assim não dá!
Então ele a pegou no colo por baixo do começo de suas
patinhas, deixando o rosto felino dela na mesma altura que o próprio. Ela ficou
esticada no ar encarando-o com indiferença. “Que é?” miou.
– Qual o seu problema? Por que você tá tão chata? –
Questionou em tom de súplica encarando o animalzinho de perto.
“Eu não sei o que você tá falando, humano” miou “mas eu
quero atenção e você tá de mau humor”.
A gatinha agitou as patinhas e alisou o rosto dele como
pode, então abaixou a cabeça e lambeu a mão esquerda dele.
“Eu amo você humano” miou “Me dá carinho e você vai ficar
melhor, eu sei que vai. Você sempre fica melhor depois de me dar carinho.”.
Ele ficou em silêncio e abraçou a gatinha, que se apoiou
nele e ronronou baixinho passando a cabeça em seu pescoço. Acariciou a
cabecinha dela e suspirou, sorrindo então como quem se conforma, mas se
sentindo realmente melhor sem poder explicar como.
– Você precisa ser tão chata assim só pra me animar? Sério?
“Bom humano, humano obediente... Continue assim, você não me
dá carinho de mau humor. Eu gosto de carinho, então fique feliz” miou em meio a
um ronronar sutil.
– Você é insuportável, mas não sei o que faria sem você.
Riu então carregando a gatinha de volta pro quarto e
retomando seus afazeres. Por mais que às vezes tudo pareça ruim, ou as coisas
fiquem tristes e toda a motivação suma... Sempre tem alguém pra lembrar que há
algo mais importante e simples pra se preocupar do que problemas ou algo do
tipo. A vida é muito mais simples do que parece, e afagar um gato normalmente
resgata o dia de forma simples e eficaz.
***
Comentem pelo gatinho muito sortudo. q |
Eu estava me sentindo meio desanimada e decidi escrever alguma coisa do meu ponto de vista felino. É realmente assim, ter um gato. Ou ter uma pessoa chata que é chata pra fazer você voltar a ser feliz, por de volta no lugar. Sei lá, acho que vale sempre a pena dar atenção à essas pessoas. Geralmente me ajuda a ficar mais feliz, aposto que poderia ajudar mais gente também. Só uma dica, sei lá.
Até mais fantasmas. :3
Mitsu chataaa!!! Minha linda...
ResponderExcluirParabéns pelo texto.
Que munitinho :'3
ResponderExcluirQue bom que você gostou, foi pensando em você. :P
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